A homofobia assassina nascida em leito de verdades únicas

Quando na escola, aprendemos sobre os grandes pensadores da nossa história. Homens e mulheres que questionaram e mudaram o mundo a partir de sua observação sagaz, de um forte senso crítico e de uma boa retórica.

Navegamos em meio aos filósofos e vamos pouco-a-pouco percebendo o quanto evoluímos como seres intelectualizados, críticos e civilizados.

Contudo, nada compete mais com o crescimento do conhecimento do que o avanço de sua própria ausência, ou seja, a ignorância.

Assim, vivemos em uma sociedade que, como com o dinheiro, vivencia dois estremos em relação ao conhecimento: a abundância e a escassez.

Quando falo em abundância, não me refiro a uma exaustiva exposição ao mesmo tipo de conteúdo, mas a conteúdos divergentes, que se desafiem, pois é isso que nos possibilita a autocritica e sua consequente evolução.

Especialmente quando falamos em sexualidade, os tabus impostos pela falta de informação múltipla e rica acarreta uma série de amarras que resultarão, hora ou outra, em alguma atitude extrema – possivelmente violenta – com outrem.

Isso por que reprimir certos aspetos do indivíduo, ao invés de dialogar de forma holística com seu “eu”, nunca rendeu bons frutos a ninguém e cria uma pressão intelectual difícil de lidar.

Longe de representar uma proximidade à santidade ou à divindades, certas repressões contra nossos corpos presentes em alguns discursos religiosos, por exemplo, apenas nos tornam mais amargos, pois propõem objetivos limitadores difíceis de serem mantidos.

Outro problema da escassez de conhecimento múltiplo é a incapacidade que pessoas expostas a este tipo de aprendizado tem de lidar com o que é diferente.

Boa parte do preconceito com os outros advém da exposição a uma única “verdade” durante muito tempo. Com isso o indivíduo se torna incapaz de conviver ou aceitar o que difere de si.

Alimentado por seus pares extremistas, esses indivíduos parecem viver em um mundo a parte, onde tudo é espelho ou alvo.

A homofobia, por exemplo, reside em parte nisso. O indivíduo nasce em leito homofóbico, tem amigos preconceituosos que reafirmam essa postura, e ainda vê – seja na televisão ou em sua religião primária –, discursos motivadores de intolerância e desrespeito.

Isso alimenta um ser intolerante que, dependendo de outros aspectos de sua criação, achará correto bater com lâmpadas fluorescentes em possíveis homossexuais ou esfaqueá-los pelas costas em postos de gasolina.

O interessante é que o disparo automático implantado nestas pessoas parece não depender de uma atitude direta com elas. A simples demonstração do diferente machuca seus egos a ponto de desencadear demonstrações violentas de intolerância.

Podemos observar isso no vídeo feito pelos locutores de rádio da BBC, Iain Lee e Justin Dealey, no qual eles circularam de mãos dadas pelas ruas enquanto conversavam amenidades.

O simples ato provocou uma série de reações malcriadas como a de um jovem que soltou um som de repulsa pelo casal alegando que eles eram errados e nojentos.

Veja o vídeo a seguir (em inglês):

Obviamente há casos ainda mais estremos em nossas terras, como, por exemplo, o pai e filho agredidos durante um show pelo simples fato de terem se abraçado.

A rejeição que estas pessoas aprendem a reproduzir é uma triste realidade que só no ano passado matou mais de 320 homossexuais, como apresentado pela Rede Brasil Atual:

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Este número pode ser ainda maior, uma vez que muitos casos de homofobia não são registrados nesta modalidade e, portanto, somem em meio a outros tipos de crimes.

Vendo que este número dobrou nos últimos dez anos, podemos perceber o avanço do preconceito, da intolerância e da ignorância dentro da nossa sociedade.

Casado a isso, vemos um crescimento exponencial de religiões mais conservadoras e, dentro delas, fundamentalistas se usando de seus preceitos para espalhar seu ódio na tentativa de saciar algum problema psicológico mais profundo.

Nas últimas semanas, por exemplo, foi notícia no mundo o assassinato de homens gays por religiosos em países controlados pelo Estado Islâmico.

Homofobia mata em Estado Islamico
Homossexuais covardemente assassinados. Reprodução/Twitter

Porém, muito além da punição embasada em preceitos religiosos, é possível perceber requintes de crueldade e selvageria na forma como eles aplicam seu ódio punitivo.

Covardemente amarrados, os homossexuais são jogados do alto de prédios em frente a uma multidão que assisti ao absurdo. Enquanto isso, os carrascos tiram fotos em alta qualidade, provavelmente para alimentar seu apetite dogmático em uma masturbação mental doentia.

O mesmo podemos ver em vídeos gravados na Rússia, onde grupos de monstros em pele humana agridem covardemente pessoas homossexuais, as vezes assistidos por uma polícia muda e apática que nada faz para conter a violência gratuita.

Diante de tudo isso, e da clara emergência que temos em assegurar o desenvolvimento de cidadãos realmente civilizados, capazes de conviver com o que difere de si, vemos nosso governo democrático, liderado por um partido historicamente envolvido com os direitos humanos, se calar e virar as costas para uma minoria agredida constantemente.

O projeto de lei que igualava a homofobia ao racismo foi arquivado eternamente no Senado, depois de ser cozido por frentes religiosas e sofrer repúdio entre os militares, assombrados por estas questões desde sempre.

A educação, talvez o único caminho para a construção de uma sociedade civilizada, sofreu outro golpe ao perder o projeto escola sem homofobia, recusado pela chefe de Estado com um discurso equivocado de propaganda de sexualidade.

Assim, vemos parte da nossa sociedade relutar em aceitar que duas pessoas adultas possam se amar consensualmente mesmo sendo ambas do mesmo sexo biológico.

Enquanto isso, a violência se banaliza e certos desprezíveis se acham no direito de ofender as pessoas por sua sexualidade e ainda pregar sua cura (ou sua morte).

Se alguém tem que ser curado, são os incapazes de respeitar os outros, conviver com a diferença e cuidar de sua própria vida.

Ser gay é uma luta gigante neste mundo, por isso temos que nos manter sempre atentos e resistentes.

E, enquanto formos incapazes de promover o acesso a um conhecimento plural e fomentar o desenvolvimento de cidadãos realmente civilizados, ainda veremos esses erros acontecendo em nossa sociedade.

Esperando e lutando por dias melhores, continuemos firmes e fortes.

Referências
Move Notícias; Rede Brasil Atual; O Diário; Parada do Orgulho LGBT de São Paulo;

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