Entrevistamos Rusty J. Greene sobre as verdades e mentiras a respeito da Truvada

Desde a publicação da entrevista com o produtor de filmes pornôs, Michael Lucas (Confira a entrevista), nós acabamos recebendo muitas perguntas sobre Truvada, o medicamento que ganhou popularidade nos EUA e chega com uma promessa de inibir o vírus HIV no corpo humano. Porém, será que essa pílula milagrosa é tudo o que dizem?

Um artigo do Hunter-Bellevue School of Nursing intitulado ‘New Challenges in Preventing HIV Among Men Who Have Sex With Men in New York City’ (Novos desafios na prevenção do HIV entre homens que praticam sexo com outros homens em Nova York’) me chamou a atenção justamente pela pesquisa feita pelo autor, Rusty J. Greene, com uma ênfase no uso de Truvada. Rusty aceitou responder algumas perguntas para o BBG.

Pra começar, o que é Truvada?

Rusty J. Greene – Truvada é na verdade um antiretroviral usado no tratamento de pacientes portadores do vírus HIV. Em 2010 o FDA (Orgão responsável pela aprovação de drogas nos EUA) começou a conduzir uma pesquisa pra saber se Truvada funcionaria em pacientes HIV negativos como uma forma de inibir a infecção pelo vírus. Quando os testes se tornaram positivos, a droga foi aprovada para uso. Foi atestado que reduz o risco de infecção em 44% para quem não toma o medicamento com frequência e em 90% para quem toma diariamente. O uso foi aprovado para homens e mulheres, mas se tornou mais positivo entre a comunidade gay, pois foi a comunidade que mais sofreu com o avanço da doença. Basicamente, Truvada impede seu organismo de se infectar com o HIV.

Então não tem uma eficácia de 100%?

Rusty J. Greene – Não. Foi comprovado que há uma proteção de 90% com o uso diário do medicamento.

Mas há quem diga que o medicamento é 100% eficaz no caso de se fazer sexo com alguém indetectável. 

Rusty J. Greene – Bom, hoje em dia existe o HIV Negativo, o HIV positivo e o HIV positivo indetectável, que significa que a carga viral do paciente foi rebaixada a zero com o uso do medicamento apropriado. Em pesquisas recentes realizadas na África se constatou que a chance de um paciente que está indetectável contaminar seu parceiro (a) com o vírus é praticamente inexistente, independente da pessoa estar em Truvada ou não. Todavia, eu acho esse tópico um tanto controverso. A menos que se conheça bastante a outra pessoa, como alguém pode saber com certeza que a ele esta dizendo a verdade sobre ser indetectável ou não? Portanto eu não acho que as pessoas devam se basear apenas nessa informação pra decidir se devem ou não fazer sexo desprotegido.

E cabe dizer que Truvada também não oferece proteção alguma contra outras DSTs.

Rusty J. Greene – Isso é verdade. Truvada funciona como um inibidor do HIV no corpo humano, mas ainda assim temos outras doenças como Hérpes ou HPV que podem funcionar como porta de entrada para infecção pelo HIV. Se a pessoa está tomando Truvada, mas não toma o remédio com certa frequência, e se infecta com outras doenças, isso aumenta em muito a chance de infecção pelo HIV e foi algo que eu acabei encontrando bastante durante minhas pesquisas para o artigo. Aqueles que não tomam Truvada com frequência, e ainda assim fazem sexo desprotegido, estão aumentando muito seu risco de contaminação pelo HIV.

Então o uso de Truvada não exclui o uso de preservativo?

Rusty J. Greene – O FDA e o CDC (Centro de controle e prevenção de doenças) só recomendam o uso de Truvada desde que acompanhado de preservativo. Os médicos são instruídos a receitar Truvada como uma outra camada de proteção, não como uma maneira de fazer sexo desprotegido. A verdade é que os homens andam cansados de tantas prevenções com relação ao sexo e o Truvada acabou chegando como uma maneira de poder fazer sexo sem camisinha despreocupadamente. Eu não digo todos, mas a maior parte sim. Com o Truvada, a preocupação caiu um pouco mais. Então se estão no meio do sexo e acontece de fazer sexo sem camisinha, isso deixou de ser um problema. E cabe afirmar que a droga se popularizou em Nova York, mas em outros lugares dos EUA ela não está sendo assim tão usada.

E por que não?

Rusty J. Greene – Primeiro, pelo alto custo. 1.300 dólares por mês é o custo do medicamento. Quando o seguro cobre, ótimo. Mas não é assim tão simples. É feita uma série de exames pra saber se seu fígado e intestino aguentam o uso diário do medicamento, exames de sangue, depois seu médico tem que entrar em contato com o seguro para que eles aprovem o uso do medicamento… E todo esse processo deve ser repetido a cada 3 meses. A gente vive meio que numa bolha em Nova York, achando que o que acontece aqui acontece no resto do país e na verdade não é bem assim.

E os efeitos colaterais?

Rusty J. Greene – Os efeitos imediatos são na maioria dos casos diarréia, cansaço, dor de cabeça e tontura. Isso a curto prazo. Por se tratar de uma droga nova não há ainda relatos dos efeitos colaterais a longo prazo. Alguns médicos estão preocupados com os efeitos de Truvada nesse longo prazo. Uma coisa é certa, não faz bem pro seu fígado ou rins. Se você não for 100% saudável, não use.

Aqui em New York o remédio realmente se popularizou. As pessoas colocam em seus perfis nos aplicativos que estão usando Truvada…

Rusty J. Greene – O que é uma outra maneira de dizerem que fazem sexo sem camisinha, entendeu? Um paciente HIV positivo, que participa das nossas pesquisas, disse que quando ele vê no perfil de alguém que ela usa Truvada e topa fazer sexo sem camisinha, ele automaticamente descarta a pessoa. Porque ele não sabe que outras doenças aquela pessoa pode ter. O que pode parecer para você é que você está se cuidando, mas na verdade você está apenas passando uma mensagem negativa de que você curte sexo desprotegido. Você já ouviu falar do termo ‘Truvada Whore’, certo? É como chamam esse tipo de pessoa.

Mas e as produtoras de filme pornôs que fazem filme sem preservativos?

Rusty J. Greene – Na minha opinião eles vendem a ideia errada de que sexo desprotegido é ótimo. Eles mostram modelos bonitos, aparentemente saudáveis, fazendo sexo sem camisinha e se divertindo. Logo depois o porta-voz dessas companhias vai a público dizer que seus modelos usam Truvada, por isso fazem sexo sem preservativo e tal… Isso leva a uma ideia errada de que Truvada pode ser usado como único método de proteção e na verdade não é. O uso de Truvada não deve excluir o uso de preservativos. Quando a indústria do pornô mostra esses caras transando, sem medo, curtindo mesmo, eles fazem seu público querer o mesmo tipo de diversão. Eu não chamaria de irresponsável, mas eu diria que é bem arriscado. Mas também há de se convir que a cada um tem que cuidar de si, não se deixando influenciar pelos filmes pornográficos.

Mas esse tipo de informação errada atinge um grande público.

Rusty J. Greene – Sim. Principalmente os mais jovens. Eu sou de uma geração que sofreu muito com o surgimento de HIV, perdi muitos amigos e a mídia demonizava muito a doença. Hoje ninguém mais morre de HIV, mas envelhecer sendo portador do HIV ainda é muito complicado. A nova geração, esses na faixa dos 20 anos, não viu o lado negativo do HIV e por isso eles tem menos medo da doença. A verdade é que, mesmo sendo uma doença tratável, o HIV ainda é uma doença crônica e como tal precisa ser evitada. Quer usar Truvada, use. Mas não exclua o uso da camisinha.

Você usa Truvada?

Rusty J. Greene – Usei por três meses, mas desisti. Primeiro, porque odeio tomar medicamentos sem necessidade. Segundo, porque odiaria ter que passar por aquele bateria de exames a cada três meses para ter minha receita renovada. Terceiro, porque simplesmente não vale a pena. Eu nunca fui adepto do sexo bareback, sempre usei camisinha e estou muito bem… Não vai ser agora com quase 50 anos que vou mudar minha rotina.

* * *

A Truvada se encontra atualmente em fase de testes no Brasil, onde será constatado se o medicamento será ou não ser recomendado para uso país. Cabe lembrar que não existe pílula milagrosa e a melhor fonte de prevenção ainda é a informação e o uso da camisinha.  Truvada pode ser também uma forma das indústria farmacêuticas fazerem dinheiro, uma vez que já faturam milhões em dólares atualmente com as drogas fabricadas para pacientes HIV positivos. Agora conseguiram uma maneira também de fazer dinheiro com pacientes HIV negativos, sem se preocupar com os riscos do uso do medicamento a longo prazo.

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