Meu urso de olhos azuis

Meu urso de olhos azuis é um conto gay de amor que conta a história de uma paixão nascida no ambiente de trabalho e que floresce em um tórrido encontro íntimo.

Meu urso de olhos azuis – Parte 1

Me lembro da primeira vez que o vi sentado seriamente em frente ao seu computador.

Dono de olhos azuis profundos, barba bem desenhada em um rosto arredondado delineado por cabelos curtos.

Mirava compenetrado o monitor sem dar muita atenção à minha presença, era nos momentos de cafezinho na copa que eu podia ver seu sorriso largo diante das minhas piadas propositalmente proferidas e, logo depois, assistir seu corpo gordinho desfilar na minha frente voltando para seu lugar na grande sala de carpete acinzentado.

A aliança no dedo esquerdo me impedia de nutrir qualquer esperança de tocar naquela beldade ursina, mas não conseguia tirá-lo dos meus sonhos noturnos.

Os mistérios que aquele homem dedicado ao trabalho carregava no silêncio de seu cotidiano mexiam com minha imaginação, principalmente quando o via se permitir a algumas conversas descontraídas com as pessoas ao seu redor.

Uma ligação numa tarde quarta-feira me colocou em situação arriscada.

Um dos softwares que vendi conseguiu parar todo o sistema de um dos meus clientes, e, depois de curtas conversas, lá fui eu levar a solução para o problema sentado ao meu lado, sorrindo timidamente com aqueles olhos de oceano.

Usei toda minha simpatia para contornar o problema sistêmico com um cliente preocupado, enquanto o objeto de meus sonhos noturnos trabalhava com códigos estranhos tentando colocar ordem a um caos de bytes raivosos.

O gladiador físico venceu os dígitos desordeiros e em poucos minutos todos os computadores conversavam em harmonia.

Sorridentes, deixamos o prédio em clima de descontração.

Acostumava-me a sua presença ao meu lado e tentava relaxar discursando mentalmente que ele não sabia de minhas intenções gulosas em relação ao seu corpo, mente e coração.

Parado diante de um semáforo em vermelho, debatíamos conquistas amorosas, e ele displicentemente disse “…mas um cara cheio de lábia e bonito como você não deve ter problemas para conquistar alguém”.

Em um salto rítmico, meu coração disparou, o “bonito” na frase ascendeu algo em minha mente. Virei em sua direção levemente assustado e encontrei seu olhar devorando indiscretamente minha presença.

Anos de venda, negociando com pessoas difíceis, ficaram inúteis diante dele.

Tímido, meio calado, e com a voz mansa, ele desarmou toda minha prática de negociação e me fez sentir como um adolescente assustado.

Uma buzina escandalosa me tirou da hipnose e me lembrou que o verde era sinal para eu movimentar o carro para frente.

Meio confuso, passei pelo cruzamento sem saber o que fazer com a informação que vi em seu olhar.

Ansiedade e desejo consumiam meu corpo, não queria deixar ele sair dali, mas não sabia como continuar a conversa. Precisava de tempo, mais tempo para pensar em uma tática e ter certeza de que eu não sonhava.

No ímpeto de conseguir mais tempo com ele cometi um erro estratégico, disse que precisava buscar o contrato do tal cliente na minha casa, pois tinha esquecido isso, algo que poderia me causar certo desconforto com meu chefe.

Perguntei se ele se importaria se eu o fizesse antes de voltarmos, pois assim omitiria o deslize. “Por mim tudo bem”, disse ele de forma despretensiosa.

Alegre com minha única ideia, sorri acreditando ter conseguido mais tempo, mas diante do portão da garagem abrindo percebi que estava indo rápido demais.

Colocá-lo dentro do meu apartamento era um risco muito alto, ao invés de conseguir o que queria, poderia colocar tudo a perder.

Parei na vaga do prédio já me condenando pela enorme burrice. Algo que aprendi com as vendas foi nunca forçar demais um cliente. Eu sabia plantar a semente certa e esperar as oportunidades parar fazer a venda acontecer.

Como um vendedor primário, eu estava indo depressa demais e poderia acabar por assustá-lo e ainda me causar um problema no meu ambiente de trabalho.

Me sentindo perdido, convidei-o para subir escondendo qualquer traço que acusasse meu desejo por ele.

Surpreendentemente ele me acompanhou, liguei o modo ‘amigo do trabalho’ para a conversa de elevador e entrei no apartamento reclamando da burocracia do mundo corporativo.

Deixei-o na sala e fui ao banheiro. Lavei o rosto e me xinguei pelo erro. A ansiedade de tê-lo nos meus braços me fazia sentir perdido. Mais do que nunca eu não sabia o que fazer a seguir.

Voltei para a sala sorrindo, mas não o encontrei no cômodo. Olhei rapidamente na cozinha e lavanderia, passei pelo escritório e então pensei no único lugar onde ainda não olhara sentindo um frio na barriga.

Meu urso de olhos azuis – Parte 2

Novamente meu coração disparou, minha garganta ficou seca. Empurrei a porta do meu quarto e o encontrei olhando para a cama.

Ao perceber minha presença, ele me olhou num sorrindo quase inocente e disse “sua cama parece ser muito confortável”.

Se havia um mundo fora daquele quarto, eu já não me importava mais. Entorpecido, avancei o espaço que nos separava quase que num salto e o puxei pelo quadril, forçando seu corpo contra o meu.

Senti seu hálito quente roçar meus lábios pouco antes de tomá-lo em um beijo, que começou leve e foi se intensificando acompanhando o ritmo do meu coração.

Nossas línguas se roçavam entre brigas e carícias, e eu tentava saciar minha fome por ele.

Minha mão esquerda segurava firmemente suas costas, segurando seu corpo colado ao meu, enquanto minha mão direita subiu até sua cabeça e, num instinto incontrolável, o segurou firmemente direcionando seu rosto para os lados que mais me saceavam.

Sentindo o calor de nossos corpos aumentando, passei meu rosto em sua barba induzindo-o a beijar meu pescoço.

Ainda com fome, minha mão direita invadiu sua camiseta e encontrou pelos fartos espalhados pelo peito e pela barriga saliente.

Já enlouquecido, arranquei dele as roupas que me impediam de vê-lo por completo e descobri um corpo lindo, deliciosamente gordinho, encantadoramente peludo.

Se existia um paraíso, este era ele.

Consumi seu corpo em beijos, carícias e sexo ignorando o mundo que acontecia fora daquelas paredes.

Quando exaustos deitamos sobre a cama, ofegantes e silenciosos recuperando nossos fôlegos, me permiti olhar para ele deitado de olhos fechados ao meu lado com mesma expressão tranquila e carinhosa de sempre.

Encantado com seus lindos traços, acariciei seu rosto e barba. Ele abriu seus olhos de oceano e me mirou entregue num sorriso delicado.

Avançando em minha direção, deitou sua cabeça em meu peito me permitindo fazer um cafuné na sua cabeça enquanto acariava levemente suas costas nuas.

Respirei aliviado e calmo.

Tê-lo deitado sobre mim preencheu meu peito com um calor que nunca sentira antes.

Ali eu me sentia mais homem do que jamais me senti em toda minha vida, mas também me sentia mais menino e indefeso que nunca.

Música que inspirou o conto

*Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.

**Imagem meramente ilustrativa.

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Referências
Imagem do Tyler Blair

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