Autoestima e a Terapia Cognitivo Comportamental

A autoestima para pessoas LGBTs é um grande desafio já que ela pode ser influenciada por fatores como o estigma social, a discriminação e a falta de aceitação.

E é sabido que nossa autoestima desempenha um papel crucial nas nossas vidas, afetando nosso bem-estar emocional, relacionamentos e até nosso sucesso pessoal e profissional.

Até a forma como nos enxergamos no espelho ou o quanto nos arriscamos na vida amorosa vai depender da forma como nos vemos a partir dessa lente.

Entretanto nossa autoestima, essa lente com a qual vemos o mundo, é formada ainda na primeira infância quando não conseguimos distinguir o que é verdade ou não entre as informações que recebemos.

Ou seja, ao nos vermos como alvos de violência moral e física por sermos “diferentes” nossa mente pode começar a entender que nós somos errados, ou, segundo o terapeuta Kimeron Hardin:

Cada vez que [você] fica sabendo de uma surra aplicada em um gay, ou vê uma piada homofóbica ou vê um anúncio heterocêntrico, você recebe mensagens diretas ou indiretas que sugerem que você é inferior, defeituoso, mau ou sem valor.” (HARDIN, 2000, p. 30).

Não à toa muitas pessoas LGBTs têm uma visão distorcida de si e de sua realidade e muitas vezes se encontram em estado de ansiedade ou depressão, por exemplo.

Felizmente, a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) pode ser uma abordagem eficaz para auxiliar na melhora da autoestima e já é aplicada em muitos contextos terapêuticos.

Para esse artigo, vamos usar a obra do próprio Kimeron Hardin para entender como a TCC vem traduzindo e ressignificando a forma como lidamos com nossa autoestima.

Como nossos pensamentos são estruturados e afetam nossa autoestima

O terapeuta Kimeron Hardin nos apresenta um modelo esquemático de três camadas que alimentam nossos pensamentos e ações, sendo eles:

Estrutura de pensamentos e crenças que afetam a autoestima para pessoas LGBTs
HARDIN, 2000.

Os pensamentos automáticos

São aqueles pensamentos prontos que aparecem a cada vez que passamos por alguma situação emocional marcante. Pode ser, por exemplo, um “sou muito burro mesmo!” quando nos deparamos diante de uma resposta errada em uma prova ou temos dificuldade de aprender uma coisa nova.

Importante ressaltar que uma pessoa com uma autoestima mais positiva pode ter pensamentos automáticos positivos ou neutros como, por exemplo, “caramba isso é difícil” na mesma situação descrita anteriormente, o que culpabilizaria a situação e não a si mesmo.

As crenças condicionais

São as regras que usamos para viver nossas vidas. Mesmo que nunca ditas em voz alta, são essas regras que vão guiar nossos passos quase, como verdades absolutas.

As crenças essenciais

São as noções sobre a vida que consideramos inquestionáveis e estão tão entranhadas nos nossos pensamentos que afetam toda a forma como vemos e agimos no mundo.

Sua influência é tão grande que por vezes podemos continuar a agir ou a pensar de certa maneira em algo que logicamente entendemos que não faz sentido como, por exemplo, acreditarmos não sermos dignos de sermos amados mesmo que isso não faça sentido.

Isso porque quando nossa autoestima é construída de forma negativa, cria-se crenças também negativas que leva a uma tendência de buscarmos provas das coisas ruins que vemos em nós mesmos, retroalimentando essas crenças, mesmo que para isso tenhamos que negar ou ignorar evidências e pensamentos lógicos.

Como a Terapia Cognitivo Comportamental atua para ressignificar a autoestima

A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é uma abordagem terapêutica que trabalha na identificação e modificação dos padrões de pensamento negativos.

Para trabalhar na autoestima para pessoas LGBTs, isso inclui desafiar e substituir crenças negativas internalizadas, combatendo os estigmas e mensagens negativas do seu passado e, por vezes, ainda presentes na sociedade.

A TCC pode fornecer ferramentas e estratégias para promover uma visão mais realista e saudável de si mesmo ao propor a identificação e modificação de pensamentos negativos.

Nesse sentido, Kimeron Hardin nos explica:

A premissa básica da Terapia Cognitivo Comportamental é simples. Pensamentos negativos geram emoções desconfortáveis, que, por sua vez, geram comportamentos ineficientes ou autodestrutivos. Para melhorar a sua eficiência no mundo ou reduzir as suas sensações de insegurança, medo, preocupação ou desolação, você precisa aprender a identificar o pensamento negativo, avaliar a sua validade e, se necessário, substitui-lo por um pensamento mais realista ou saudável.” (HARDIN, 2000, p. 22).

Assim, a terapia ajuda as pessoas LGBTs a identificarem os pensamentos automáticos negativos que contribuem para uma baixa autoestima e colocá-lo em evidência para um debate.

Ao questionar a validade desses pensamentos e substituí-los por pensamentos mais realistas e positivos, é possível reestruturar a visão de si mesmo e aumentar a autoconfiança.

Contudo esse não é um caminho simples e requer muito esforço, dedicação e, se possível, o apoio de um profissional de confiança para ajudar na trajetória.

Isso porque além de ser difícil mudar pensamentos automáticos e crenças, os estímulos negativos vindos da discriminação e do preconceito ainda estão vigentes na nossa sociedade, o que torna tudo ainda mais complicado, afinal estamos lutando com o passado e com o presente ao mesmo tempo.

Mas ao desafiar pensamentos negativos, resistir ao estigma, construir uma identidade positiva, encontramos uma boa melhora na nossa qualidade de vida.

E você já tentou ou está fazendo uso da Terapia Cognitivo Comportamental para ter mais equilíbrio na sua vida?

Referências

HARDIN, Kimeron N. Autoestima para Homossexuais: Um Guia para o Amor-Próprio. São Paulo: Edições GLS, 2000.

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