Heterossexismo e Heterocentrismo

Alguns homossexuais sofrem com preconceito desde muito jovens e eu fui um desses que encarou o monstro da intolerância quando ainda nem entendia sua própria sexualidade, aliás, eu não tinha noção alguma sobre sexo quando me deparei com as primeiras atitudes violentas contra minha pessoa com base unicamente em minha orientação sexual.

Eu sou um daqueles casos, imagino que não raros, de pessoas que descobriram ser homossexuais pelos outros, explico, quando minha sexualidade despertou, eu já sofria perseguições por ser supostamente gay há anos.

Lembro-me de sofrer perseguições quando ainda brincava com carrinhos, ou seja, quando ainda era uma criança e nem pensava em sexo.

Claro que, devido a isso, desde muito novo eu tenho me esforçado em buscar conhecimento sobre sexo, sexualidade e, obviamente, homossexualidade para tentar compreender a seriedade das ações e reações das pessoas diante de algo que para mim poderia passar despercebido, tamanha simplicidade e frivolidade deste assunto tão particular.

Mais recentemente voltei a me deparar com dois conceitos que entendo como grandes motivadores das incursões negativas que nós, homossexuais, sofremos e que levam a nos vermos como errados ou dotados de problemas.

Estes conceitos, largamente presentes na sociedade brasileira, são o heterossexismo e o heterocentrismo.

O sexismo se refere ao conjunto de ideias que promovem a soberania de um gênero ou de uma orientação sexual sobre outras formas de sexo ou de sexualidade.

O machismo é um exemplo de sexismo que privilegia o homem (macho) em relação ao seu oposto (fêmea), ou seja, considera o homem como um ser acima e soberano em detrimento da mulher.

O heterossexismo é o sexismo focado na orientação sexual, ou seja, é o conjunto de ideias que fantasia a heterossexualidade como superior à homossexualidade.

Nos dois casos, machismo e heterossexismo, além de serem fundamentados em puro senso comum e crendices, ambos são extremistas e limitadores influenciando desde tratamentos sociais diferenciados (homens possuem maior liberdade sexual, mulheres em cargos semelhantes aos homens recebem menor salário e etc.), como podem influenciar e incentivar a violência contra o ser considerado inferior, inclusive alimentando a impunidade do agressor, por este ser considerado superior ao outro.

O heterocentrismo é baseado no egocentrismo e, portanto, trata-se da percepção de que tudo no mundo deve girar em torno das necessidades e crenças do individuo egocêntrico. Esse conjunto de ideias, portanto, cria a fantasia de que a heterossexualidade é tudo que existe.

Esse conceito é um dos grandes alimentadores de crendices que levam as pessoas a pensarem que homossexuais não precisam se casar, por exemplo, ou mesmo que propõe a tal cura gay,  por ver sua sexualidade como a correta em relação a qualquer outra forma de amor mútuo  e consensual .

O individuo heterocentrista não enxerga os direitos das pessoas diferentes de si, uma vez que esses não giram em torno de sua concepção de mundo ou de suas próprias necessidades.

No jogo de poder sexistas e heterocentristas lutam para impedir que pessoas que consideram inferiores ou que pratiquem crenças diferentes das suas recebam mesmo tratamento que tem reservados para si, dessa forma não só se mantém em sua falsa superioridade como podem influenciar os outros a se adaptarem às suas crenças, algo como “se você se comportar como heterossexual e não falar de sua homossexualidade, você poderá ter os privilégios reservados somente a esta sexualidade”.

A grande questão aqui é a bobagem que isso representa, não só a homossexualidade é uma vertente possível e realizável da sexualidade humana (principalmente no tocante de não ser nociva a nenhum dos envolvidos), como também não há nada que inferiorize uma pessoa em relação à outra.

O problema é que historicamente estamos presos a essas concepções criadas e mantidas há séculos por pessoas de visão estreita e sede de poder. O pior é que as acusações contra homossexuais criadas dentro desses conceitos normalmente são embasadas em nada além de ignorância, medo e total preconceito.

O sopro de esperança que temos é que nenhum ser humano é (ou não deveria ser), uma esponja que suga todo o conteúdo ao redor sem nem processá-lo. Hoje temos a oportunidade de questionar as informações que nos apresentam e passá-las pelo processo da coerência lógica.

É importante ressaltar que durante a história da nossa sociedade a percepção de sexualidade se alterou muito e foi a partir do avanço das religiões hebraicas que a homossexualidade passou a figurar fortemente como algo considerado errado (isso há séculos atrás), e sabemos que muito do que foi transmitido na época e mesmo durante a Idade Média foi selecionado e “ensinado” por pura conveniência dos líderes desse período.

Portanto, lute para evitar ser alimento para que esses conceitos continuem se difundindo entre as pessoas e lembre-se, é sempre melhor a pergunta e uma boa pesquisa do que uma resposta pré-fabricada por outras pessoas.

No mais, continuemos firmes e fortes.

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Referências
HARDIN, Kimeron N. Autoestima para Homossexuais: Um Guia para o Amor-Próprio. São Paulo: Edições GLS, 2000.
VIANA, Fabrício. O Armário: Vida e Pensamento do Desejo Proibido. 3. ed. São Paulo: Fabrício Viana, 2010.

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