A bicha sem valor na sociedade eugenista

A bicha sem valor nasce, cresce, luta e morre nessa sociedade eugenista e hipócrita que se cobre em manto raso de moral e bons costumes para exercer seu ódio vil.

Afinal, quando minha vida não tem mais valor para a sociedade, então a vida de mais ninguém na sociedade tem valor para mim.

Essa dócil descoberta costuma aparecer no minuto em que nos percebemos marginalizados, cuspidos dessa “sociedade-ouro-de-tolo” preenchida de falsas moralidades.

É ali que nos damos conta do sentimento de cólera presente em pessoas que, sem o menor remorso, são capazes de tirar a vida de qualquer ser humano por um par de tênis ou algo ainda mais trivial.

Afinal, como é possível dar valor a vida de alguém quando a minha própria existência não é só negada, como rejeitada por pessoas que (ainda) se consideram seres superiores?

Eles, que sem o mínimo de constrangimento, pregam e idolatram a humilhação e morte dos outros enquanto pendem paciência e falam de exageros ao ouvir brados de “resistência”.

Eles que rodeiam mesas imundas de hipocrisias e vomitam gracejos repulsivos enquanto gozam de suas vidas emporcalhadas.

Eles que não olham seus pecados, nem percebem suas vestimentas com a barra molhada de sangue de bicha sem valor enquanto sustentam seus falsos sorrisos brancos envernizados com sua fortuna abundante (construída sob o lombo de escravos famintos).

Eles que em auto-masturbação bailam ouvindo harpas afinadas em meio ao tecido vil de sua existência enquanto riem o riso das hienas carniceiras.

E como é para a bicha sem valor viver a vida sabendo que a cada esquina espreita o mal, o assassino abjeto protegido pelas leis do Estado velhaco que ascende?

E como é viver sabendo que a próxima navalha patife virá sem motivo algum lhe rasgar a carne até o seu sangue cobrir o asfalto duro (esse uma testemunha silenciosa da morte de gente que não é gente)?

E como é acordar todo dia esperando a terrível dor da morte hedionda (já que no óbito homicida não há paz ou tranquilidade)?

E como é ter sua existência e esperanças roubadas em meio ao mundo subalterno dos pobres, dos fracos, das minorias e dos que insistiram em amar em meio ao ódio?

Será que resta ao ser solitário, a bicha sem valor, aprender a fúria e a se defender com unhas e dentes enquanto encontra acalanto para sua alma na esperança de pelo menos acabar com a vida de um ou dois deles no seu caminho maquiavelicamente finito?

Referências

Imagem de capa;

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