Ideais improváveis e seu buraco impreenchível

Ideais improváveis e seu buraco impreenchível surgem e começam a ocupar tudo que conseguem em algum momento da vida.

Primeiro aparecem como uma meta possível, depois como um objetivo distante e por fim como um sonho inalcançável.

Parecem nascer como uma oposição direta a visão deturpada que a maioria da sociedade impõe aos LGBT+ como seres inferiores, feios e indesejáveis.

Encontra terreno fértil em uma indústria faminta por dinheiro que cria padrões para corpos, rostos e roupas.

Isso para que continuemos consumindo freneticamente da academia ao tratamento estético, da restrição alimentar às roupas com medidas pré-estabelecidas (onde o errado é o seu corpo não adequado ao invés dos produtos industrializados).

Não bastasse a aparência física improvável para quem trabalha mais de 10 horas por dia, as capas das revistas ainda vendem o sucesso “fácil” dos gênios empreendedores: ricos, bem-sucedidos e jovens.

Assim, a nossa vida vai parecendo mais cinza e menos interessante com esses ideais improváveis!

E o que dizer daquela linha do tempo recheada de viagens internacionais, festas na piscina e romances cinematográficos da rede social do coleguinha do lado?

Como lidar quando tiramos os olhos dos smartphones com telas e resoluções cada vez maiores e nos deparamos com nossa realidade de cabelos desgrenhados, casas desorganizadas e cansaços pesados?

Como enfrentar a realidade das nossas lutas diárias, quando o mundo em volta parece estar em uma constante festa de gente malhada, alegre e bem-sucedida?

Como é tentar preencher esse buraco impreenchível, que só faz crescer?

Conto – Os ideais improváveis e o buraco impreenchível

Certo dia o homem acordou em sua cabana na floresta e viu um terrível buraco em seu quintal.

De proporções quase inimagináveis, ele despontava perto da residência como uma boca-fera prestes a engolir tudo ao redor.

Preocupado em perder o que havia construído, ele começou uma saga de buscar terra e jogar no buraco para preenchê-lo.

Na primeira semana, conseguiu terra perto casa e só fez leva-la em um carrinho-de-mão e jogar na boca-fera.

No final de cada dia, suado e sujo, suspirava de cansaço enquanto voltava para casa.

Passados seis meses o homem viu que o buraco continuava igual, mesma profundidade, mesmo diâmetro.

Precisou ir buscar terra mais longe, além da floresta. O caminho se tornou mais difícil e a terra mais pesada.

Dia a dia, continuava sua saga para conseguir terra e jogar no buraco.

Passado um ano e o buraco faminto continuava lá, mesmo tamanho, mesma profundidade.

Dada a quantidade de terra, era claro que ele crescia e o homem só conseguia mantê-lo igual.

Sabia, então, que não jogar terra significaria perder sua pequena cabana para aquela boca-fera.

E sabia que não poderia usar outros materiais além de sua picareta, sua pá e seu carrinho-de-mão.

Aos poucos, foi necessário buscar mais terra. Agora o homem já quebrava montanhas, cortava árvores e buscava areia na costa para conseguir mais material.

Tudo era colocado em sacos e com seu carrinho-de-mão levado até o buraco e jogado contra uma sombra profunda.

Certo dia, olhando suas mãos calejadas, seu suor e suas roupas sujas, ele chorou em abundância.

Quando as lágrimas acabaram, levantou-se, suspirou brevemente e voltou a trabalhar.

Por que ele sabia que aquele buraco estava em sua alma, mas enquanto não soubesse como preenche-lo definitivamente, ele devia ao menos impedir que crescesse ainda mais.

Referências

ArtStation (Imagem de Capa);

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