Cruéis com nossos corpos: Por que nos machucamos tanto?

Cruéis com nossos corpos: Por que nos machucamos tanto? O que está por trás desse hábito de olharmos para nos mesmos de forma tão severa.

Aquela sensação de cansaço dos aplicativos de encontros só parece crescer e não é à toa com todos aqueles os perfis contra afeminados, gordos ou não musculoso e voltados para quem está fora do meio infestando todos eles.

Mesmo assim esse tipo de perfil não para de se proliferar, até mesmo nas redes sociais onde somos bombardeados por imagens e perfis vendendo o gay ideal, não afeminado, malhado e rico.

Assim qualquer um que não se enquadre nesse padrão pode vir a se sentir desconforme e até incapaz de ser aceito ou amado.

Mas no fim isso só vai nos tornando algozes de nós mesmos, em um mundo onde criamos e alimentamos um monstro que vai nos matar, e tudo isso para que?

Bruno Branquinho, por exemplo, descreve isso de forma fantástica em seu texto para Carta Capital ao lembrar que:

“Os homens gays crescem com [uma] sensação de inadequação, de que serem quem são pode lhes custar o amor e a felicidade, de que serão rejeitados apenas por serem eles mesmos, e na vida adulta parece que continuam com essa ideia quando se trata do seu corpo.”

Nesse sentido, é como se a plena liberdade nunca estivesse ao nosso alcance. Saímos do armário da sexualidade para entrar na rigidez da procura pelo padrão do corpo socialmente admirado, afinal só assim seremos amados, felizes e reconhecidos.

A loucura disso vai tão longe que não é difícil ver gays minimizando ou até defendendo atitudes preconceituosas e desprezíveis de homens por eles serem atléticos.

E quem se levanta contra esse movimento indicando outras possibilidades é perseguido e rechaçado.

Meu texto mais criticado, por exemplo, é um que fala sobre gordofobia e um dos comentários de um anônimo (plenamente ignorado) dizia algo como: “é gordo mesmo, nunca vai ser amado. Vai malhar sua bicha nojenta”.

Detalhe, o texto não ofendia ninguém, apenas ressaltava a importância de falarmos sobre esse preconceito e de aceitarmos nossos corpos.

E foram muitos desabafos meus falando sobre o assunto, mas é incrível que ele ainda não se esgotou afinal ainda hoje muitos gays, como reforça Bruno Branquinho:

“apresentam mais sintomas depressivos, ansiosos, sensação de rejeição e isolamento, e muitos acreditam que, no caso de não atingirem esse corpo magro e musculoso, não serão amados, não terão um relacionamento ou mesmo que ninguém vai querer transar com eles.”

Contra essa doença autoinfligida talvez o melhor remédio seja deixar de seguir esses perfis tóxicos que vendem ilusões e educar com cuidado nosso olhar sobre o que é belo.

E finalmente seguir o conselho do Bruno:

“Precisamos garantir que as pessoas sejam livres para terem os corpos que tiverem, sem que passe por suas cabeças que isso possa lhes custar o amor e a aceitação dos que estão a sua volta. Essa sim seria uma tremenda conquista, digna de estar em destaque em todas as nossas redes sociais.”

Quem sabe assim parecemos de ser tão cruéis com nossos corpos e aprendamos a amá-lo.

Referencias
Carta Capital – Bruno Branquinho;

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