Homens comuns – A história de dois apaixonados

Homens comuns, a história de dois apaixonados relata uma visão sobre um relacionamento amoroso entre dois homens além de luxo e ideais.

Uma reflexão sobre o que faz a gente se apaixonar e permanecer com as pessoas.

Respirei profundamente, aliviando das minhas costas a pressão que ainda existia.

Sorri tranquilo enquanto mirava seus olhos de azuis profundos.

Ele me mirava com calma e atenção despretensiosa, apenas observando com calma o desenho do meu rosto arredondado.

Deitado sobre um cobertor felpudo e seminu, sentia o toque macio do tecido na minha pele e me sentia aconchegado.

Ele, deitado à minha frente, repousava seu braço na minha cintura enquanto acariciava minhas costas com a ponta de seus dedos.

Sua barba bagunçada revelava o momento de total abandono que vivamos juntos.

Nossas barrigas sediam a gravidade, apontando para o chão a gordura saliente que nunca procuramos eliminar.

A perna dele, pesada de músculos construídos sem intenção, pesava sob minhas próprias pernas, roçando os pelos de nossos corpos em uma carícia leve e íntima.

A cicatriz da cirurgia feita há três anos percorria sua barriga, marcando a pele entre os pelos que ali residiam.

Meus braços finos pesavam para o chão e meus pés gordinhos brincavam com seu tornozelo e seu pé.

Ali estávamos perfeitos em nossas imperfeições.

Sem barrigas tanquinho, sem braços definidos, sem pernas torneadas.

Éramos dois homens simples, com gordura acumulada em várias partes do corpo, com marcas na pele, barbas e cabelos desgrenhados.

Não éramos belos e harmonizados na face, ao contrário, meu nariz redondo brigava por atenção em um rosto de olhos estreitos. Enquanto o dele era longo e apontava para frente bruscamente.

Ele ficando careca aos trinta e poucos anos e eu na mesma idade vendo os fios brancos se proliferarem descontroladamente pela cabeça e barba.

Sorri meu sorriso com os dois dentes da frente separados, ele sorriu com sua arcada dentária perfeita (sim, ele tinha algo extremamente linear, mas eu não o julgava por isso).

E não imaginem que nossos membros sexuais eram gigantes para compensar.

Meu pênis, torto para direita, mal chegava a altura do umbigo quando duro. O dele, também torto para direta, saltava veias e, apesar de mais grosso, não era muito maior que o meu próprio.

Nem por isso deixamos de ter prazer e tesão um pelo outro. Ao contrário, tínhamos orgasmos que nos faziam rir alto depois da gozada.

Mas o que nele realmente me atraía era sua capacidade incrível de ajudar os outros.

Muitas vezes paramos na estrada para ele resgatar ou ajudar um cachorro abandonado.

Muitas vezes ele deu dinheiro para pessoas na rua (e eu revirava os olhos incrédulo).

Muitas vezes ele me fez perguntas que eu não consegui responder e me obrigaram a rever muita coisa que eu acreditava.

Sua humildade sempre me deixou intrigado. Nunca tentou ser mais que alguém, nem no nosso primeiro encontro quis vender uma imagem incrível.

Nunca falou com arrogância de viagens internacionais, nem se vangloriou de possuir qualquer bem material mais desejado.

Nos vestíamos um para o outro geralmente de moletom e camiseta. E ele sempre estava mais interessado em entender o que e como eu pensava do que olhar para o que eu vestia, o que eu possuía ou que países da Europa tinha conhecido (nenhum, aliás).

Da minha parte, eu sabia que conseguia fazê-lo gargalhar.

Ele sempre se divertia com meus comentários sagazes nas diversas situações que passávamos ou víamos.

Ele dizia que eu “pensava rápido” e sempre estava de bom humor (o que comparado com ele é bem verdade).

E aos poucos a gente ainda foi aprendendo a respeitar nossas “rabugentices”.

Eu precisava ficar completamente sozinho nesses momentos, ele queria eu por perto para dar atenção para ele.

Tão diferentes em tantos aspectos e mesmo assim aprendemos a conviver um com outro.

Fico pensando que quando nossa juventude se for, quando nossos corpos se enrugarem, teremos ainda muitas coisas para compartilhar um com o outro além de tesão.

E se antes disso nos separarmos, ainda terei muitas boas histórias para contar sobre nossas “aprontações”.

Não venho aqui sustentar isso como o exemplo de amor, mas com certeza é o mais próximo que cheguei de algo tão especial.

Somos apenas homens comuns apaixonados e aprendendo todos os dias como viver bem nossas companhias.

Referências

Freepik;

*Esse é um conto fictício, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência

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