Intolerância: O verdadeiro mal da atualidade

Intolerância talvez seja o verdadeiro mal da atualidade e vem aparecendo indiscriminadamente contra pessoas, características e religiões.

No Rio de Janeiro a menina Kailane Campos voltava para casa depois de participar de um culto religioso, quando foi insultada e apedrejada por dois homens.

Testemunhas afirmam que a agressão foi originada por intolerância religiosa, já que os agressores seguravam Bíblias e as palavras utilizadas condenavam a religião praticada por Kailane e pelas outras pessoas que a acompanhavam.

Em Cariacica, Espírito Santo, Rafael Barbosa de Melo foi espancado e morto a pedradas e pauladas. As investigações ainda em andamento apontam que o crime foi motivado ou por homofobia, ou por tentativa de abuso sexual onde Rafael teria oferecido resistência ao agressor.

Já em São Paulo, o apresentador Jô Soares fez uma entrevista com a Presidente Dilma Rousseff e no dia seguinte teve a calçada em frente ao prédio em que mora pichada com a ameaça: “Jô Soares morra!!!”.

Esses três eventos aparentemente desconexos e isolados acontecidos em locais tão diversos podem parecer tratar de problemas não relacionados, porém trazem em seu conteúdo um elemento fundamental que está dando propulsão a uma grande quantidade de eventos absurdos e perigosos no nosso País e também no mundo.

Esse elemento fundamental é o respeito, ou melhor, a falta de respeito alimentada pela intolerância que está gerindo as ações e reações das pessoas e está tornando a população em algo perigoso, quase bestial.

O respeito é um sentimento positivo que significa uma ação de apreço, consideração ou deferência por algo ou alguém, e é um dos pilares de qualquer sociedade minimamente civilizada, especialmente daquelas onde existam valores como liberdade, autonomia de vontade e um tal de Estado Democrático de Direito.

Não vou entrar profundamente na questão jurídica, mas basicamente somente com o respeito dos cidadãos aos direitos dos outros, e vice-versa, podemos chegar a uma sociedade de existência pacífica, onde todos são detentores de direitos e deveres e estes são cumpridos e assegurados a todos na mesma medida.

Em outras palavras, observados certos limites, o cidadão é detentor de direitos e garantias pessoais e os outros não podem ignorar tais direitos, eles têm que ser respeitados por todos, de forma que eu respeito o direito dos outros e os outros respeitam o meu direito. É uma troca que visa a coexistência pacífica e a perpetuação da sociedade.

Sem o respeito a esses direitos e garantia individuais nós estaríamos vivendo em uma sociedade sem regras, onde o mais forte impõe sua vontade aos mais fracos pela força do momento, ou seja, uma sociedade bárbara, que tende a desaparecer, sendo autoconsumida.

Nesse sentido, nossa Constituição Federal, que é a lei maior que se sobrepõe a tudo e a todos garante direitos amplos, e mais especificamente nos mantendo aos exemplos citados no começo do texto, ela garante a liberdade de escolha de culto religioso, garante a integridade física das pessoas e a opção sexual de todos, garante ainda a liberdade de expressão e de pensamento.

Assim, Kailane é livre para exercer sua fé em qualquer religião que seja; Rafael tinha direito de ter seu corpo íntegro e optar por exercer sua sexualidade da forma que quisesse; Jô tem o direito de perguntar o que quer à Presidente, e todos os outros brasileiros tem o dever de respeitar essas três pessoas nas suas escolhas pessoais invioláveis.

Aliás, a questão é justamente essa, todas essas situações demonstram escolhas de caráter privado que não interferem com outros indivíduos e ninguém tem o direito de exigir deles que ajam de forma diferente por causa da crença de outras pessoas, e muito menos autorizam as outras pessoas a agredirem quem fez escolhas diferentes do agressor.

Dessa forma, as escolhas individuais das mais diversas naturezas devem ser respeitadas por todos. Escolhas de religião, de sexualidade, de pensamento, de opinião, todas devem ser respeitadas, desde que não afrontem direitos alheios. E porque é importante fazer essa última ressalva? Porque eu não posso garantir direitos se esses são utilizados para ofender, agredir e anular o direito de outras pessoas que pensam diferentemente de mim.

Por isso não tenho o direito de incitar ódio e violência a quem faz ou pensa diferente, especialmente se a conduta do ofendido só lhe diz respeito e não interfere na vida dos outros, como no caso da orientação sexual e da liberdade de culto e de pensamento. A simples existência dos que optam por coisas diferentes ou pensam diferente não fere direito algum de outras pessoas.

Infelizmente hoje em dia parece que está fora de moda respeitar aos outros e a moda é a intolerância.

Se valoriza muito quem xinga, bate, berra e bota o dedo na cara dos outros e se menospreza quem respeita as escolhas individuais dos outros.

Infelizmente isso é reflexo da nossa falta de valores, da nossa frustração e da cultura brasileira de que o importante é se dar bem passando a perna nos outros.

E infelizmente tudo isso junto nos faz viver numa sociedade cada vez mais agressiva, opressora e idiota, onde não há garantia institucional, e tudo se resolve na agressão e na base da lei do mais forte, como os bárbaros faziam. Nesse sentido estamos caminhando para trás a passos largos e deprimentes.

Está na hora de entendermos que respeitar não significa ser fraco, bobo ou ingênuo, de entendermos que é no respeito e no diálogo que se constrói uma sociedade mais justa, saudável e dinâmica.

Vamos pensar a respeito e acabar com a intolerância! 

2 comentários em “Intolerância: O verdadeiro mal da atualidade”

  1. Ótimo texto, Guilherme! A falta de respeito, intolerância e a discriminação são muitas vezes confundidos com liberdade de expressão. Meu espaço começa onde termina o seu e é isso que as pessoas têm dificuldade em entender. Aceitar uma opinião contrária ou divergente da sua não deveria ser tão difícil, muito menos gerar violência.

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