Só feios podem falar da beleza

Só feios podem falar da beleza,
e o fazemos porque não a possuímos.
É a cruel verdade de que, não se vivendo, se observa e se conhece.
Mas seu olhar é cruel e maldoso, por que no fundo talvez haja inveja
Melhor: cobiça.

Mas eu não desejo que a beleza morra,
Talvez até queira fazer parte dela,
dançar sua dança e rir seu riso.
Nessa tortura de desejo e repulsa,
finjo me abrigar na sabedoria.

Como feio rancoroso, sempre penso na beleza
e com raiva a observo cuidadosamente.
Pois se só feios podem falar da beleza
Assim eu me regozijo em falar!

Vejo a beleza trazer em si algo de sórdido,
algo de sujo.
Como vilã provocadora,
exibindo sua formosura e humilhando.

No prazer afável engana quem a detém,
Fazendo-se pensar eterna e tornando-se foco principal.

Mas também há ela de morrer diante do tempo
e então, nesta última instância,
maltratará a quem lhe carregou como a um filho querido
e novamente se fará vilã.

Sem ela seria a vida mais triste?
Indubitavelmente com ela a vida mundana se faz mais feliz.

Ah! Doentes homo videns que vivem alimentando-se
pelos olhos fugazes.
Ah! Tristes homo sapiens que morrem à mingua.
Será que nunca haveremos de vê-los conectados?

Então digo:
Vá beleza passageira
e brilhe no palco da vida enquanto pode,
mas saiba que em sua despedida
o valor interno é que assistirá ao teu último suspiro.

Deixe uma resposta

Rolar para cima