O pegador: Ser ou não ser um cara que sai pegando geral?

Ser um pegador às vezes parece uma obrigação. Eu, por exemplo, de vez em quando me sinto não aproveitando a vida por não ter tido vários namorados ou parceiros sexuais até hoje.

Parece que estou perdendo minha juventude ou minha vida por não ter beijado ou transado com muitos homens, como se isso fosse uma indicação de fracasso da minha parte.

Talvez seja por eu sentir que não ter conseguido conquistar muitos homens é um sinal de fraqueza, falha ou de faltar algo em mim, seja um corpo ideal, mais beleza, uma personalidade mais “viril” ou mais dinheiro, por exemplo.

Ou talvez seja resultado de uma pressão social que aparece nos muitos discursos orgulhos que se vangloriam em ter ficado com vários na balada x, no carnaval y ou na última festa da empresa.

A reação frente ao “eu não sou pegador”

Ao me apresentar fora dessas práticas, dizendo simplesmente que não peguei ninguém no último ano, por exemplo, a expressão das pessoas vai da perplexidade total ao olhar de compaixão.

E sem importar qual expressão venha, a verdade é que isso me faz sentir desconfortável e infeliz.

Não imagino por que tanto orgulho em pegar vários ou por que tamanha perplexidade em eu não ter feito o mesmo.

Isso me parece muito mais escolhas de estilo de vida do que uma obrigação social, mas não é o que surge nos grupos sociais. A pressão do “tem que sair pegando” sempre se manifesta.

No entanto, quanto penso em sair pegando geral, já me sinto meio cansado e desmotivado, bem na linha “não estou muito a fim de fazer isso”.

Parece que tem uma pressão externa dizendo que isso é o certo a se fazer, que é a melhor maneira de viver a vida, mas eu comigo mesmo não acho isso divertido, pelo contrário, me parece algo pesado, algo que eu faria por obrigação, não por prazer.

Difícil é lidar com essa dualidade, em que o estilo de vida que me agrada parece ser errado ao olhar de várias pessoas e até da mídia.

E no meu atual contexto – pasme –, isso às vezes aparece mais pesado do que a minha própria homossexualidade.

Por outro lado, não nego que me questiono se esse outro comportamento não me faria mais feliz. Se realmente tem algo errado comigo, por isso eu não consigo ser mais “normal” nesse aspecto, ou seja, o pegador.

O receio de falar sobre ser ou não um pegador

E só para ajudar, cresce agora um movimento de que não se pode ter dúvidas sobre quem você é e como agir no mundo.

Nessa onda do empoderamento do eu, se você não está se autoafirmando ou defendendo seu estilo de vida o tempo todo, ou você é fraco ou você é antiquado.

E a minha impressão é que apesar de altamente positiva essa onda, não ter espaço para explorar as dúvidas sobre mim mesmo e sobre minhas relações com o mundo que vivo, torna tudo ainda mais difícil.

Afinal, eu sou consciente de que não sei todas as respostas e por isso mesmo estou constantemente buscando descobrir a mim mesmo e a melhor maneira para eu interagir com as coisas que me cercam.

Assim, sem um caminho pétreo, prefiro continuar com minhas indagações até me sentir satisfeito.

Sempre com minhas muitas dúvidas e meu olhar atento e curioso a respeito da vida e das pessoas.

Afinal,

Mafalda
Mafalda – Quino

Referências

Imagem de capa IMDB;

5 comentários em “O pegador: Ser ou não ser um cara que sai pegando geral?”

      1. Comecei a me assumir há 4 meses… é aquilo, família, parentes, amigos, vizinhos e conhecidos fingem que não sabem e eu finjo que não sei que todos fingem que não sabem. Não sou afeminado e nem passa pela minha mente me entregar à lascívia. Vou vivendo e torcendo pra que eu não precise sofrer tanto para adquirir experiência nesse meio. Baixei o Grindr em meados de maio, não saí com 1 cara até hoje(!), mas o povo parece só querer sexo, você vira quase que literalmente um pedaço de carne no açougue!
        Sei que heterossexualidade não é sinônimo de felicidade, mas prazer sexual também não é sinônimo de alegria, porém é nessa prática vazia em que muitos parecem depositar suas esperanças duma “vida melhor”.
        Pelo que noto, o ego é o principal responsável por manter as pessoas na solidão, não que não seja possível ser feliz sozinho, mas boa parte dos viados prefere viver só a tentar correr atrás de quem lhe agrada, até porque ir atrás do amor dói, aí é comum presenciar pessoas do nosso meio correndo atrás dessas migalhas de “amor” que a luxúria proporciona, um prazer efêmero e que só faz aumentar ainda mais o buraco da solidão.
        A gente quer chegar em casa e ter alguém pra conversar, mas só restam as paredes e o fato de ter que encarar uma vida de prazer sem futuro e sem graça.

        Ótimo blog! 👍

        1. Realmente, parece cada vez mais difícil estabelecer conexões mais profundas. Talvez temos (a comunidade LGBT) um caminho mais complexo a percorrer para nos compreendermos e para superarmos o ego como forma de proteção e autoafirmação.

          Afinal, a “beleza”, o sexo e a “juventude” é passageira, e vale a pergunta sobre o que vai restar quando a velhice bater à porta, que tipo de relações teremos para esses dias?

          Obrigado pelo seu ponto de vista!

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