Objetivos de Ano Novo, afinal por que estabelecemos isso?
Lendo Sociedade do Cansaço de Byung-Chul Han, me peguei pensando sobre os motivos que nos levam a criar objetivos todo final de ano e qual é o caráter dessa construção.
Meus objetivos sempre giram em torno de conquistas muito dentro das perspectivas de sucesso da nossa sociedade atual como, por exemplo, emagrecer ou ter um corpão, ganhar mais dinheiro, viagens internacionais etc.
Mas, afinal, o quanto disso é realmente relevante para mim (ou para as pessoas de modo geral)? Será que isso me trará felicidade?
Essa busca pela felicidade como algo que está além de nós mesmos, com evidências que se possa mostrar aos outros, às vezes em tempo real via redes sociais, realmente representa a felicidade plena da existência humana?
E, só para ajudar, que tipo de sentimento surge quando nos deparamos com a não realização desses objetivos? O que nos passa pela cabeça?
O fracasso e o sucesso, segundo o próprio Byung-Chul Han, cada vez mais é colocado na nossa conta, como se a competência pelo sucesso fosse responsabilidade de cada um, como se a força de vontade individual fosse o suficiente para a realização de qualquer coisa (até do impossÃvel).
Mas a realidade não é essa. Meritocracia não existe, é pura bobagem.
Se colocar no centro do universo como único responsável pelo sucesso ou fracasso é uma das mais terrÃveis ilusões que nosso tempo inventou.
Primeiro precisamos entender o que é a felicidade, do que ela é composta, depois entender que ela não é duradoura ou eterna e por fim entender o que podemos fazer para alcançá-la ou mesmo o que não conseguimos fazer, a tornando uma meta impossÃvel.
E está tudo bem ser impossÃvel.
Não alcançar algo não é um fracasso, é um fato da vida. Acontece! Muito mais vezes do que alcançar, inclusive.
Para mim particularmente, parece que preciso estar pronto para lidar com isso. Com as idas e vindas da vida. Seus altos e baixos.
Viver é uma atividade para qual a escola não nos prepara, principalmente a atual que apenas visa criar pessoas produtivas, mesmo que irracionais.
Assim, só com tempo e sorte podemos aprender como enfrentar os desafios e compreender uma forma de viver que nos traga mais alegrias que tristezas (se possÃvel).
Nesse contexto, hoje me questiono sobre criar meus objetivos homéricos, que reluz no brilho do sucesso conceitual, mas que no fim só serve para me aprisionar na ideia de produtividade infinita onde conquistar o impossÃvel só depende de mim (sic).
Contudo, não ter objetivos definidos me traria um vazio que me deixaria mal ao invés de bem?
Não há como saber antes do tempo, imagino.
E nem sei se consigo hoje desistir de criar ou mapear objetivos.
Esse é um vÃcio da sociedade produtiva que está tão arraigado em mim que seu abandono com certeza me custará muito ainda.
Assim seguimos estabelecendo objetivos de Ano Novo, todos os anos.
Referências
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Ed. 2. Petrópolis: Editora Vozes, 2017.